A propalada troca de treinador do Benfica, para a próxima época, para a próxima época, é mais um sinal de fraqueza moral por parte de quem gere o destino do meu clube.
No passado recente, basta recordar o despedimento imbecil de Fernando Santos, à primeira jornada, depois de um empate com o Leixões. O facto de se lhe ter deixado planear a temporada durante o Verão (e meses que o precederam, como é óbvio) não contou para o desfecho desta relação profissional - para Fernando Santos, terá sido uma relação passional, ele que é assumidamente benfiquista.
Ele, que podia ter sido campeão na última jornada, apesar de ter ficado sem Simão e Manuel Fernandes ainda durante o estágio de pré-temporada, sem ter havido reforços de igual categoria. Os dirigentes acharam que não bastou. Estão no seu direito, e foi para tomar decisões que foram eleitos pelos benfiquistas com poder de voto.
Fernando Santos foi despedido à primeira jornada, depois de um Verão em que o presidente do Benfica passou as férias com Camacho que, curiosamente, sucedeu a Fernando Santos. Relevante.
Com Camacho na Luz, as coisas não melhoraram. O espanhol, pago a peso de ouro e de forma desproporcional para o seu currículo, não fez nada na Luz, foi-se embora dizendo que aquele Benfica não era o mesmo que tinha vencido a Taça de Portugal em 2004 - aí, tinha razão. A começar pelo facto de a direcção do Benfica ter achado normal definir publicamente (pelo não desmentir) que o próximo director desportivo do Benfica estava, à época, a pisar os relvados com o Manto Sagrado.
Rui Costa foi colega de equipa de uma data de jogadores que não sabia se ia ficar, sair, ver o seu salário melhorado, ser emprestado - decisões a tomar pelo gajo que tomava duche com eles, no final dos jogos. O podre a que Camacho se referia talvez tenha que ver com isto. A saída de Camacho aconteceu quando o Benfica ainda tinha uma palavra a dizer na Taça UEFA. Com Chalana no comando até ao final da época, numa situação desprestigiante para si e para o clube que representa, o Benfica foi eliminado e acabou a época sem troféus, em quarto lugar, e a uma distância obscena para o segundo lugar, quanto mais para o campeão. Os dirigentes acharam que era o que tinha de ser feito. Estão no seu direito, e foi para tomar decisões que foram eleitos pelos benfiquistas com poder de voto.
Entra 08/09. Rui Costa é o pára-raios de Vieira e tem um budget do tamanho da ilusão dos adeptos vermelhos. A dupla Vieira/Costa tenta a contratação de Ericsson e falha. Para liderar o futebol do Benfica, contratam Quique Flores e o seu reputado staff. O treinador (mais um espanhol pago a peso de ouro) tem escola, imagem, foi jogador de top e tem ambição. É a sua primeira grande oportunidade, fora de Espanha.
Enquanto Quique estuda e se ambienta Portugal, o Benfica e tudo o que envolve o campeonato português, o Benfica mantém-se à tona das ambições caseiras e atinge, inclusivé, a liderança. Quando a liderança é escandalosamente roubada ao Benfica, a direcção não demonstra censurar o trabalho de Quique, mas também não protege o espanhol, que vai ficando cada vez mais desamparado à medida que a temporada progride e os insucessos de acumulam.
Desde que o título se tornou missão impossível para o Benfica, o treinador ficou numa posição que se pode caracterizar como sendo de uma fragilidade tremenda. Terá a sua quota parte de responsabilidade neste insucesso, mas não a terá toda. Se a aposta da direcção era ganhar no ano de estreia do treinador, devia ter-se contratado um treinador que não necessitasse de tempo (que o clube não tem) para se ambientar e conhecer a particular moldura do nosso clube e do nosso campeonato. Foi como apostar um balúrdio num cavalo de que só conhecemos a reputação (desconhecendo a real solidez da sua competência). Correu mal - para as expectativas criadas, entenda-se. Os dirigentes acharam que era o método que se devia utilizar para ganhar. Estão no seu direito, e foi para tomar decisões que foram eleitos pelos benfiquistas com poder de voto.
Antecâmara da época 2009/2010. A estória (ou, pior, a História) repete-se: ainda a presente temporada não acabou, e já Quique Flores tem o terreno minado para a temporada que se avizinha. Fragilizado pela imprensa avençada - não apenas pelo poder vermelho, mas também por todos aqueles que ficam a ganhar, década após década (e já lá vão três), com um constante "ground zero" do futebol encarnado a cada ano que passa -, a posição de Quique tem o destino traçado.
Pior; o treinador que se aponta é aquele que na próxima jornada irá defrontar o Benfica. Onde está a moral desta gente? Onde está o respeito pelo clube adversário e, acima de tudo, pelos adeptos do próprio clube? Estará o Benfica assim tão desesperado por uma solução que não pode esperar mais umas semanas? Ainda Quique não foi despedido, ainda Jesus não foi apresentado como o próximo treinador do Benfica, e já existe esta pressão sobre o seu potencial. Mas, novamente, os dirigentes acham que este é, agora, o método que se deve utilizar para vencer. Estão no seu direito, e foi para tomar decisões que foram eleitos pelos benfiquistas com poder de voto.
Paremos para pensar. O que pensam os benfiquistas deste sucessivo turbilhão de insucessos desportivos ao nível da equipa principal de futebol? Pode enganar-se muita gente durante muito tempo, mas não se pode enganar toda a gente durante todo o tempo. Se uma empresa, mesmo depois de reabilitada economicamente por uma dada equipa, não apresentar resultados, cabeças terão de rolar. E o método de rolo-compressor sobre os treinadores já está provado que não resulta. Quando é assim, a culpa de quem falha quando aponta alternativas para o caminho para o sucesso, é de quem está lá em cima, a mandar-chuva. O que os benfiquistas não parecem entender é que foram eles que elegeram quem toma estas decisões. Não se pode dar mais tempo a quem já demonstrou que não é de tempo que precisa - é de competência.
Ao surgirem com alternativas, ao colocarem esta direcção em cheque, estão no seu direito, e foi para tomar decisões, de forma democrática, que os benfiquistas têm o tal poder de voto e podem traçar o destino do clube.