O FC Porto comemorou em 28 de Agosto o seu "alegado" 115.º aniversário, para citar um importante jornal desportivo com “uma celebração discreta e muito intimista”, coisa que nos põem a imaginar o seu vitalício presidente a recitar Régio e a esposa, em fundo, a tocar Mozart ao piano. E digo "alegado" porque nem todos os portistas, que durante quase 90 anos se habituaram a comemorar o aniversário do clube no dia 2 de Agosto, aceitam como boa a engenharia histórica que o sr. Pinto da Costa fez em finais dos anos 80, acrescentando nada mais de 13 anos à já longa vida do clube, e tornando-o, de uma assentada, "centenário".
Não sei se o ora suspenso presidente se inspirou numa espécie de repescagem histórica feita anos antes pelo seu rival preferido, o Benfica, que, mais modesto, se contentou em "recuperar" apenas 4 anos da sua história através do parceiro com o qual se fundaria, de facto, em 1908. Sei é que, com este golpe de génio, o insigne e esmagador presidente azul venceria mais uma vez o Benfica, tornando o seu FC Porto centenário antes dos encarnados.
O FC Porto foi fundado realmente em 2 de Agosto de 1906, pelo eng. José Monteiro da Costa, cujos descendentes ainda pensaram, na altura, desmascarar este atropelo à sua memória. Conheci as duas pessoas recrutadas, digamos assim, para montar e dar alguma verosimilhança à nova "versão histórica" da fundação do clube. Uma delas era um curioso jornalista, tenaz coleccionador de histórias, uma espécie de pesquisador de ouro que esmiuçava tudo em que mexia, (cujo não identifico porque ainda é vivo e não lhe pedi autorização para o meter nisto) a outra era, na altura, um conhecido pianista e homem-de-sete-ofícios, que criou ou copiou da televisão italiana a figura de um boneco que teve algum sucesso na RTP, o “Toppo-Giggio”.
A base de trabalho de ambos foi, salvo erro, o recorte de um jornal datado de 1882 ou 1893, em que era referido um certo Foot-Ball Club do Porto, criado por um senhor António Nicolau de Almeida, do qual se perderia totalmente o rasto ou mais referências nos anos que se seguiram e que tudo indica terá desaparecido como uma alma penada. Com ele, Pinto da Costa, aumentou nada menos de 13 anos (cruzes, canhoto) ao FC Porto. Ou seja, não se contentou em “fazer história" no seu clube durante o seu tempo, reescreveu-a andando para trás no tempo até ao século anterior.
- Rui Cartaxana,
in Record
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