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sexta-feira, novembro 07, 2008

A análise do "Menino de Ouro"

A análise de JVP

Benfica | Galatasaray
1 | Velocidade a funcionar

Este é um daqueles jogos que têm de ser partidos para melhor se tentar explicar o que aconteceu, porque ontem houve dois Benficas: um veloz e vivo que criou oportunidades que não concretizou; outro que se anarquizou, foi dominado e permitiu que o adversário criasse situações de golo que só é costume ver nas peladas, durante os treinos.

Depois de um começo equilibrado, com uma oportunidade para cada lado, o Benfica foi-se superiorizando e criou mais oportunidades de golo, principalmente quando jogava em velocidade e utilizava lançamentos em profundidade, para aproveitar as características de Suazo. Foram 45 minutos muito interessantes por parte do Benfica, que conseguiu pôr a nu as limitações do Galatasaray, uma equipa bastante experiente nestas andanças das competições europeias, mas que se deu mal sempre que foi pressionada. Só que a equipa portuguesa não aproveitou a metade do jogo em que foi melhor e depois sentiu amargos de boca.

2 | Desorganização e anarquia benfiquista

Depois do jogo com o Guimarães, pode pensar-se que Quique Flores arriscou demasiado ao introduzir alterações no onze, mas não creio que estivesse aí o problema. Este plantel do Benfica permite ao treinador, pelo menos do meio-campo para a frente, fazer a rotatividade que entender. Além de que as alterações feitas não foram propriamente decisões de risco, pois o Nuno Gomes antes de sair da equipa em Guimarães estava a jogar muito bem e o Di María é sempre uma incógnita, podendo-se sempre esperar que faça coisas diferentes. O bom resultado e a exibição de Guimarães não eram razões suficientes para que o treinador não mexesse na equipa. O problema foi a falta de organização e também não me pareceu que houvesse voz de comando. Pelo menos dentro do campo.

3 | Oportunidades que só se vêem em peladas

Com o Benfica incapaz de perceber o que se passava à sua volta, mesmo depois das entradas de Aimar, Carlos Martins e Cardozo - numa equipa à deriva nada acrescentaram, o que fizeram foi mais do mesmo -, o Galatasaray jogou tão à vontade no meio campo benfiquista que criou situações de golo que pareciam coisa de pelada durante um treino. Lances de todo invulgares a este nível, mas a verdade é que aconteceram. Era fácil perceber que os turcos estavam mais perto do segundo golo do que os benfiquistas de chegarem ao empate, até que chegou o segundo golo, de uma forma fácil, com a defesa do Benfica em linha e muito junta, fazendo uma oposição passiva. Culpa do meio-campo, que não pressionou o portador da bola, do Di María que não acompanhou a entrada de Akman no corredor esquerdo, e dos centrais, que deixaram Umit Karan isolado. Vi e revi as imagens do segundo golo, que são o retrato fiel do que é uma equipa partida. De resto, o Benfica atacava com cinco unidades que não voltavam para trás, deixando as questões defensivas para os quatro defesas mais o trinco. Uma desorganização crescente que levou à total perda de controlo. Enquanto isso, o Galatasaray da segunda parte foi uma equipa madura, que soube esperar pelos momentos certos para desferir os seus golpes e ganhar com justiça.

4 | Plantel permite rotatividade tranquila

Depois do intervalo, o Benfica voltou a revelar problemas que já se lhe tinham visto nos jogos iniciais da época mas que nos últimos jogos pareciam estar ultrapassados. A equipa regressou ao campo apática. Incompreensivelmente, deixou de pressionar, deixou de aplicar velocidade nos movimentos ofensivos e passou a ter mais dificuldade em comandar o jogo, ataque que acabou mesmo por ceder o controlo aos turcos. Experiente, o Galatasaray percebeu as fragilidades do Benfica, cresceu, pegou no jogo a seu bel-prazer e abriu o activo. Um golo que se adivinhava, pela forma desligada como jogava a equipa da Luz. Após o golo, quando se pensava que iria reagir de forma positiva, o Benfica desorganizou-se, anarquizou-se, a equipa partiu-se e o Galatasaray jogou como quis, utilizando a possa de bola como arma e chegando à área encarnada com facilidade e sem oposição.

5 | O Meira que se esperava

Sobre o Galatasaray vou dedicar algumas linhas ao Fernando Meira, que fez na Luz a exibição que sempre se espera dele. Certinho, prático, utilizando processos simples e eficazes, liderou a equipa turca em termos defensivos, mas não limitou o seu papel às tarefas de médio mais recuado. Pelo contrário, acompanhou a equipa nas saídas para o ataque e pudemos até vê-lo junto à área do Benfica.

6 | Parabéns ao Braga

Uma referência também ao Sporting de Braga, que está de parabéns, pela atitude que demonstrou num estádio sempre difícil e frente a um adversário mítico e sempre muito forte. O resultado foi uma tremenda injustiça, pois a haver um vencedor deveria ter sido o Braga. Parabéns também ao Jorge Jesus, que foi a S. Siro jogar com cinco elementos de características ofensivas no cinco inicial. Ou seja, manteve-se na senda daquilo que tem sido o brilhante comportamento do Braga nas competições europeias.

- João Vieira Pinto, in O JOGO

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