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quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Inverno gela transferências... por ora - o Benfica

A época de transferências terminou. O SL Benfica contratou Laurent Robert (ex-Portsmouth, Newcastle United), Moretto (ex-Vitória de Setúbal), Marco Ferreira (jogador livre, depois de rescindir as suas ligações com FC Porto e Penafiel), Manduca (ex-Marítimo) e tem Marcel emprestado (!) pela Académica de Coimbra.

O guarda-redes menos batido da Europa, três jogadores para jogar nas zonas mais adiantadas das faixas laterais e um ponta-de-lança possante e goleador. Se se pode concordar que o SL Benfica colmatou bem algumas lacunas do plantel, noutras áreas tem agora um excedente de jogadores, continuando carenciado de um lateral esquerdo de raiz.

O plantel encarnado necessitava de um terceiro guarda-redes mais experiente e com mais qualidade do que Rui Nereu - que demonstrara ter pouca maturidade competitiva para o nível de jogos que o SL Benfica iria ter de realizar. Depois de uma boa exibição frente ao Vilarreal, em Espanha, o jovem guarda-redes dos bês demonstrou ainda não estar à altura do desafio; ao contrário de Moreira, que agarrou a oportunidade quando esta surgiu, há uns anos atrás.
Quim demorava a estar a recuperar a forma, consentindo golos que jamais sofreria, em condições normais (o jogo de Braga exemplifica-o). Não conseguia bater as bolas em condições e jogava em esforço - apreciado pela massa adepta vermelha-e-branca que, no entanto, desesperava por um guardião de confiança.

Resgatou-se Moretto das mãos do neo-rival FC Porto (que ainda não tem o peso histórico de uma rivalidade como aquela que o SL Benfica tem com os verdes do outro lado da Segunda Circular... nem de longe). Os azuis-e-brancos não necessitavam de mais um guarda-redes, mas precisavam de outra querela. Que perderam. O episódio da contratação do gigante brasileiro ficará para a História do futebol português, tendo envolvido cenas de chapadaria e all that paf. Moretto roubou a titularidade a Quim, o segundo keeper da Selecção, que tinha contribuido para a série de jogos que o SL Benfica vinha efectuando sem sofrer golos - paradoxalmente, Quim tomara o lugar de Moreira quando este tinha sofrido quatro golos no Restelo. Ao contrário do suplente de Ricardo na Selecção, Moretto está no coração dos benfiquistas pela forma como preferiu o clube da Luz ao Dragão. O que é a justiça no futebol?

Laurent Robert é um jogador de um enorme talento para quem os melhores momentos da carreira já passaram. Nitidamente na fase descendente da sua carreira, os benfiquistas depositam, mesmo assim, alguma expectativa em relação aquilo que o seu pé esquerdo possa fazer. Ao contrário do que havia apregoado acerca do ostracizado Karyaka, o gaulês tem o perfil para ocupar a posição de Simão, em campo - tanto mais não seja por revelar muita dificuldade para se adaptar ao lado direito do ataque.
Depois de uma exibição transparente no Estádio da Luz, marcou frente ao Tourizense, para a Taça de Portugal. Desde aí que Robert, que afirmou ter vindo para ser titular, tem passado ao lado dos jogos que disputou. Espera-se mais do extremo francês, mas ninguém ficará realmente surpreendido se resultar em flop.


No mesmo dia em que a dupla Vieira-Veiga apresentou Moretto, houve uma surpresa: Marco Ferreira. O extremo que Mourinho havia contratado para o FC Porto nunca singrou nos clubes por onde passou: Guimarães e Penafiel, tendo sido rejeitado por todos os treinadores que passaram pelo referido FC Porto, depois do actual treinador do Chelsea. Talvez se tenha tratado de uma forma de a Direcção encarnada atacar os seus homólogos do FC Porto - para apimentar mais as coisas, o jogador confessou ser benfiquista desde criança. Pelo excedente de jogadores a jogar nas extremas do terreno, Marco Ferreira deverá ser carta fora do baralho de Koeman - tanto, que foi preterido para a Champions. O jogador ainda não jogou regularmente, nem "entra" de forma regular. Estaria o Benfica a precaver a saída do seu novo menino-de-ouro, Simão Sabrosa? Se o menino sair, desta vez, vendam-no... sempre arrecadam uns trocos.

Manduca deixou o Marítimo, onde vinha rubricando excelentes e consistentes exibições, e mudou-se para a Luz. Enquanto é "fácil" ser-se o melhor numa equipa de menor dimensão, no SL Benfica os jogadores fazem parte do plantel por serem, à partida, melhores que a vulgaridade que abunda nos restantes campos nacionais. O jogador brasileiro, possuidor de um pé esquerdo que se destaca pela sua qualidade, terá de provar que merece um lugar na equipa de Koeman.
Já se chegou à conclusão que o esquerdino se adapta melhor ao lado esquerdo do ataque do que a jogar atrás do renascido Nuno Gomes. Mais um extremo? Ou será Manduca um jogador mais interior, um médio esquerdo? Confesso que não estou completamente a par das qualidades do jogador (apenas vi os resumos do Marítimo e os jogos contra os grandes), pelo que não estou em posição de afirmar, em definitivo, o que penso da contratação.
Jogando atrás do ponta-de-lança, Manduca passou ao lado do dérbi de Lisboa e poderá ter deixado passar a sua grande oportunidade de se afirmar perante Koeman e os adeptos. No entanto, o holandês já demonstrou ser mais teimoso que a massa associativa.


Depois de uma saída conturbada da Académica de Coimbra, Marcel chegou ao SL Benfica rotulado de goleador. Um goleador possante, que não precisa de grandes oportunidades para marcar. O jogador que deverá ser o apoio que se pede para Nuno Gomes. Talvez embalado pela forma como Moretto conquistou os benfiquistas, Marcel tentou cantar-lhes ao coração, dizendo que tinha o Benfica no pensamento... desde sempre.
Frente à União de Leiria, Marcel deverá estar na forma que se requer para mostrar os seus dotes. Se marcar, o brasileiro terá como concorrência na frente de ataque... Geovanni. Miccoli não brilha, não emagrece e não marca. O italiano deverá ser remetido para o banco de suplentes, a segunda casa de Pedro Mantorras.


O avançado angolano está numa fase da sua carreira em que pretende abdicar do seu contributo para a selecção dos palancas negros, de forma a afirmar-se perante o clube que o recuperou para o futebol. Mantorras está com uma atitude de "ou tudo, ou nada", querendo provar que consegue jogar um jogo inteiro, que pode ser útil, que não é uma carta fora do baralho... querendo dizer que está lá! Ao pensar assim, ou se afirma, de facto, ou quebra psicologicamente. Não sei o que será mais difícil - se a afirmação numa equipa que o tem vindo a encarar com pouca seriedade (Mantorras é o fintas que não tem um futebol objectivo, já não joga como antes, mas marca uns golos que dão jeito), se a quebra psicológica de um jogador que não quebrou após dois anos sem jogar, amparado em muletas.

Ficou por contratar um defesa-esquerdo. Com Manuel dos Santos de fora das contas de Ronald Koeman, Léo é o único defesa-esquerdo de raiz no plantel encarnado. O brasileiro ficou no banco contra o Sporting, o que representou mexidas de grande importância na defesa - um autêntico efeito-borboleta. Adaptou-se Nelson à esquerda (o fulgor inicial esvaneceu-se) e Alcides à direita. Se um jogo mau do cabo-verdiano resulta numa apatia ainda vai passando despercebida, já de um jogo mau de Alcides não se poderá dizer o mesmo. O Benfica-Sporting é uma amostra do pior que pode suceder aos encarnados num dia em que Alcides enfrenta jogadores com uma qualidade superior à média: Nelson desaparece e o brasileiro faz a direita da defesa um autêntico passador. Simão perde em apoio e fica impedido de apoiar os avançados - a sua missão principal. Lá atrás, Alcides explora limites desconhecidos da paciência dos seus colegas da defesa, enterrando-os em trabalhos imprevistos para evitar dissabores.


Não me esquecendo da excelente exibição que o jovem central rubricou perante os tenros bifes do Manchester United, na Luz, acho que Alcides deve permanecer como quarta opção para o centro da defesa. No entanto, João Pereira mudou-se para Barcelos e as opções "mais óbvias" começam a escassear, nas laterais mais recuadas.
Em última análise, será preferível ter o impetuoso Ricardo Rocha no lado esquerdo a ter o inconsequente Alcides na direita. Rocha deixa Nelson à direita e o Benfica fica a ganhar: os seus cruzamentos criam imenso perigo e servem bem os avançados. Para além de funcionar bem com qualquer extremo que esteja à direita.

O SL Benfica parte para a segunda volta do campeonato com um plantel que faz de Koeman o treinador encarnado com o melhor plantel da última década, para as bandas da Luz. Daí até se ter uma equipa campeã, é o que se verá.

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